Médicos: mediocres e desempregados. Artigo do dr Carlos Roberto Schwartsmann

Publicado no jornal o SUL.

Sem dúvida, a deficiente educação primaria registrada no nosso país, por descaso governamental, nas últimas décadas, atingiu também a educação médica.

Como leciono a mais de quarenta anos na universidade assisto estarrecido a estas mudanças.

Os alunos da medicina sempre souberam que para este curso é necessário perseverança, paciência, tempo, muito estudo e muita dedicação!

Nas áreas humanas a afetividade é uma exigência natural!

No passado, bem-educados, eles eram triados, treinados, preparados, dispostos e interessados. Ninguém se formava em medicina por acaso!
Hoje a maioria abdicou destes predicados ou adjetivos. A sociedade (família, escolas, universidades) falhou e não conseguiu mais lapidar estes jovens.
Eles viraram, principalmente, contestadores.

Para piorar o cenário, houve no passado recente a absurda ideia governamental de que o modelo médico a ser seguido no Brasil não deveria ser mais o americano ou europeu. Os médicos deviam ser generalistas como o regime cubano!

Além da troca curricular, principalmente ocorrida nas universidades federais, surgiu a descabida ideia de que o país deveria ser inundado de médicos?!
Em 1997 o Brasil possuía 85 faculdades de medicina, hoje são 353. O número quadruplicou em 25 anos!

Só a Índia supera o Brasil pois possui 595 escolas médicas, Os Estados Unidos possuem menos que a nossa metade: 155 escolas.

Lamentavelmente não houve nenhuma preocupação com a qualidade do médico formado.

Pasmem, hoje existem faculdades sem hospital-escola!

Obviamente, também, não há quadro docente preparado ou qualificado para este tipo de ensino.

Hoje já temos excesso de médicos no Brasil!

Médicos insatisfeitos porque pagaram muito pelo curso. Médicos despreparados e mal formados!

Médicos que não sabem e não aprenderam construir uma relação médico-paciente. Médicos que reconhecem seu pouco saber e encarecem muito a medicina solicitando exames caros e completamente desnecessários.
Médicos que produzem altas taxas de complicações terapêuticas e pós cirúrgicas.

O 1º ministro indiano Narendra Modi já denunciou que lá existem muitos médicos medíocres e desempregados.

Só existe uma maneira de não repetirmos o mesmo caminho. Um velho aforisma diz “O ensinamento é coletivo, mas o aprendizado é individual”. Aquele que quiser ser realmente “Médico”, terá que estudar muito mais, trabalhar muito mais e aprender muito mais!

* Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário

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